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Investidores acreditam mais em robôs do que em pessoas, revela pesquisa


A pandemia de coronavírus (covid-19) tem mudado a relação dos brasileiros com o dinheiro, segundo uma pesquisa realizada pela Oracle e a especialista norte-americana em finanças pessoais, Farnoosh Torabi. A grande novidade nisso tudo é a informação de que as pessoas confiam mais em robôs do que em humanos quando o assunto é finanças pessoais e gerenciamento de patrimônio.

De acordo com o estudo, 75% dos brasileiros preferem deixar o dinheiro nas mãos de robôs do que confiar o patrimônio aos especialistas. A tecnologia tem feito com que muitas pessoas substituam a mão de obra humana. Na opinião da especialista em fundos da EXAME Research, Juliana Machado, a automação, o machine learning e o uso de algoritmos deverá "empurrar o mercado financeiro para a inovação" no segmento, porém isso não significa que toda mão de obra humana será substituída.

"A ideia é aliar as máquinas ao trabalho humano para ter mais eficiência em desempenhar funções e a inteligência humana ainda será extremamente necessária no processo. Acredito em uma mudança de foco e o desenvolvimento de novas funções, mas substituir os inúmeros profissionais, em inúmeras funções, isso não sei se vai acontecer. De qualquer modo, é um chamado à inovação e reinvenção de quem atua no mercado financeiro atualmente, não tenho dúvida, de incorporar mais tecnologia aos processos, entender de que forma usar isso a seu favor e de forma ganhar tempo com isso para não ficar para trás", afirmou a especialista do mercado financeiro.

De acordo com a pesquisa da Oracle, 91% dos consumidores brasileiros têm algum tipo de temor financeiro, como por exemplo:

- perda de emprego (34%)
- perda de poupança (41%)
- nunca sair das dívidas (35%)

Devido a todas essas preocupações, 45% dos consumidores relataram ter perda de sono durante a noite. Dos consumidores entrevistados na pesquisa, 74% preferem robôs no lugar de consultores financeiros pessoais.

Segundo Machado, traçar um futuro para o uso de robôs não é uma tarefa fácil, mas, assim como em outras áreas, o processo de evolução e transformação da sociedade mostra que há uma tendência em automatizar algumas funções para o ganho de produtividade e escala. "É um processo que vai continuar se intensificando, eu não tenho dúvida, e que tem ônus e bônus", afirma a especialista.

Toda crise econômica mexe com a cabeça das pessoas, do mais baixo ao mais alto escalão da sociedade. Devido a pandemia de coronavírus, 95% dos líderes brasileiros de empresas disseram estar preocupados com o impacto nas finanças de sua organização. Entre as preocupações mais comuns estão: a lenta recuperação econômica ou recessão, os cortes no orçamento e, por último, a falência.

A pesquisa contou com dados coletados entre 10 de novembro e 8 de dezembro de 2020, com um total de 9 mil entrevistados de 14 países. O estudo buscou entender as atitudes e comportamentos de consumidores e líderes de negócios em relação a dinheiro, finanças, orçamentos e o papel e as expectativas da inteligência artificial (IA) e robôs em tarefas e gerenciamento financeiro.

Mercado financeiro não deverá funcionar apenas com robôs

Com a constante mudança tecnológica e o maior espaço dela no mundo financeiro, os profissionais e consultores de finanças pessoais deverão desenvolver novas habilidades, mas não deixarão de atuar no mercado. "Acredito que tudo tem a ver com transmitir conhecimento e segurança, de forma horizontal. Um profissional que seja capaz de identificar as suas falhas, deixar elas às claras para pessoas e explicar de forma direta o funcionamento dos produtos no mercado financeiro tende a ser reconhecido sim", afirmou Machado.

Cerca de 92% dos líderes de empresas entrevistados querem a ajuda de robôs para tarefas financeiras, incluindo aprovações financeiras, orçamento e previsão, relatórios e gerenciamento de conformidade e risco. Enquanto isso, os profissionais de finanças corporativas devem se concentrar mais na parte humanizada, como comunicação com os clientes, a negociação de descontos e a aprovação de transações.

Um total de 93% dos líderes de empresas entrevistados afirmaram que os robôs podem facilitar o trabalho detectando fraudes (55%), criando notas fiscais (24%) e realizando análises de custo/benefício (30%). Do total de entrevistados, entre consumidores e executivos, 43% afirmou que os robôs podem ajudar a reduzir gastos. Outros 28% disseram que essa tecnologia pode auxiliar nos investimentos em bolsa.

Apesar dos consumidores serem a favor dos robôs na ajuda pela administração de suas finanças e redução de gastos desnecessários, a especialista da EXAME destaca que o mais importante para as pessoas é não ter a sensação de que estão sendo enganadas. "O que as pessoas não gostam é a sensação de que estão sendo induzidas a acreditar em algo e de que existe alternativa, mas que elas não sabem qual é. Tem que ser mais claro na apresentação de produtos, tirar dúvidas de forma direta, ter uma interação facilitada com as pessoas e falar a linguagem delas é uma forma excelente de afirmar o seu espaço enquanto profissional do mercado financeiro", assegurou Machado.

A especialista em fundos salientou, por outro lado, que os profissionais do ramo não devem encarar o uso de automação como um inimigo, e sim como um aliado. "Ele foi criado por humanos para colaborar com humanos, então não tem nexo estabelecer uma disputa aqui. A disputa é por bons profissionais e isso sempre será realidade, não importa o estágio do mercado, inclusive para mostrar às pessoas que robôs também erram e podem apontar caminhos ruins, a depender da forma como foram desenhados", disse.

A pesquisa da Oracle diz exatamente isso. Os consumidores querem cada vez mais que os consultores financeiros pessoais forneçam orientações sobre as principais decisões de compra, como comprar uma casa, um carro e planejar a aposentadoria. Ou seja, nem tudo tem que ser feito por robôs na visão deles.

Para Farnoosh Torabi, especialista em finanças pessoais, que colaborou para a pesquisa, os robôs estão bem posicionados para ajudar. "Eles são ótimos com números e não têm a mesma conexão emocional com dinheiro. Isso não significa que os profissionais de finanças estão saindo ou sendo substituídos totalmente, mas a pesquisa sugere que eles devem se concentrar no desenvolvimento de habilidades sociais adicionais à medida que seu papel evolui”, destacou.

Fonte: exame.invest